Tantos Pintores
A realidade, comovida, agradece
mas fica no mesmo sítio
(daqui ninguém me tira)
chamado paisagem
Tantos pintores
A realidade,comovida, agradece
E continua a fazer o seu frio
Sobre bairros inteiros, na cidade,e algures
Tantos mortos no rio
A realidade comovida agradece
porque sabe que foi por ela o sacrifício
mas não agradece muitoA realidade comovida agradece
porque sabe que foi por ela o sacrifício
Ela sabe que os pintores
os escritores
e quem morre
não gosta da realidade
querem-na para um bocado
não lhe chegam muito pode sufocar
Só o velho moinho do acordeon da esquina
rodado a manivela de trabuqueta
sem mesura sem fim e sem vontade
dá voltas à solidão da realidade
Mário Cesariny, Titânia e a Cidade Queimada